10 de novembro de 2014

Eu vi: Que bom te ver viva

Sabe quando você está com um assunto na cabeça e, de repente, de várias formas diferentes ele passa a percorrer sua vida? To assim com a nossa ditadura militar! Eita tema estranho para ficar na minha cabeça, né não? Mas enfim, esse período pós eleições com passeatas e apelos facebookianos pela intervenção militar, já seria difícil ficar imune ao assunto. Como se isso não fosse suficiente, minha última disciplina na faculdade (já contei que faço História?) abarca a história do Brasil a partir da República Nova até os dias de hoje e passamos essas últimas semanas falando sobre o período militar. Ainda, essa semana dei aula sobre o tema no cursinho popular em que trabalho. Para completar (juro que é a última coisa!), 2014 é aniversário do golpe: 01/04 foram completos 50 anos. Não tem como eu estar com a cabeça em qualquer outro assunto, tem?
Bom, foi nesse clima que eu assisti ao filme que é uma mistura de drama com documentário Que bom te ver viva (1989) da cineasta Lúcia Murat. Nele, oito mulheres que passaram por tortura na ditadura contam um pouco sobre como estão hoje e o papel que essa experiência tem em suas vidas. O drama fica por conta da atuação de Irene Ravache, que interpreta o alter-ego da própria Lúcia Murat que, assim como suas entrevistadas, foi presa e torturada. 


Como se deve imaginar, é um filme bastante pesado. As torturas narradas, mesmo quando não totalmente explícitas, são difíceis de serem imaginadas. No caso das mulheres mais do que no dos homens, o corpo é o principal instrumento de tortura: estupros coletivos, o uso de ratos e baratas, a agressão física e sexual levada ao máximo. E quando elas não conseguiam mais resistir e pediam pela morte, a negação do pedido. "Eu não vou te matar. Eu te mato se eu quiser, dizia ele [o torturador]" fala uma das vítimas e continua "Não era questão de saber as informações que eu tinha. Era de me quebrar. De quebrar a minha vontade de lutar, por ter agido contra o regime".


Ao ouvir os depoimentos o título da produção torna qualquer explicação dispensável: é realmente incrível que elas estejam vivas. Quatro anos após o fim da ditadura, essas ex-presas políticas contam como são suas vidas à sombra das memórias da ditadura. Não foram apenas anos nas prisões, mas parentes e amigos que continuam desaparecidos, filhos nascidos entre as grades, quando não abortos resultantes das torturas. Libertas, elas caminham entre a linha tênue entre a importância de lembrar e a necessidade de esquecer.
Eu achei o filme o máximo, recomendo muito! Quem assistir, depois me conta o que achou. ;)

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