Na minha última ida à livraria decidi fazer algumas compras ˜arriscadas˜, levei alguns livros sem nunca ter lido nada sobre eles ou seus autores. Calcinha no varal me seduziu por ser um livro nacional, pelo título inusitado e pela capa que achei bonita. O fato de ser da Companhia das Letras me fez ter certeza que autora não deveria ser coisa pequena, afinal, não é tão fácil assim conseguir ser lançado por uma editora de tal porte.
Calcinha no varal (2005) é o primeiro livro da Sabina Anzuategui, curitibana formada em cinema pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Ela é também roteirista - dentre seus trabalhos está uma colaboração no filme Quanto vale ou é por quilo? do Sérgio Bianchi - e trabalha na Faculdade Cásper Líbero. Hoje, mantém um blog, o Limas da Pérsia, e já possui mais um livro no currículo: O afeto ou Caderno sobre a mesa (2011), também publicado pela Companhia das Letras.
Com 110 páginas, esse é um livro que lemos em uma sentada só: a história nos prende, quando piscamos metade do livro já se foi e daí até o fim é impossível largar. O papel é do tipo pólen bold levemente amarelado, o que é ótimo, pois cansa menos a vista. São 24 capítulos curtos nos quais acompanhamos Juliana, uma não-mais-adolescente, porém ainda-não-adulta em seus primeiros anos morando sozinha. Sozinha é modo de dizer, pois na verdade ao passar na universidade - ela vai cursar justamente ECA-USP - ela vai morar com a veterinária Isabela. Ainda assim, mesmo que não completamente sozinha, sair da casa dos pais é uma experiência e tanto - tem horas que a liberdade lubridia e outras que a insegurança pega.
A história, toda narrada em primeira pessoa pela própria Ju, tem, na minha opinião, como uma de suas maiores qualidades a verossimilhança com a realidade. De um jeito simples, sem muitos barroquismos ou não-me-toques, nossa protagonista relata o descobrir (e o findar) de uma grande paixão, os percalços de uma jovem com não muito dinheiro, mas rica em sonhos e sentimentos.
"O segundo ano da faculdade começou, e as coisas não estavam fáceis para mim. Tinha repetido três de cinco matérias. Não tinha amigos entre meus colegas. Dedicara tempo e energia a um homem que era a minha vida e depois não era mais."
Dificuldade de adaptação ao novo mundo que a universidade lhe abre, ao mesmo tempo, uma inadequação à antiga vida que levava. Nós acompanhamos um pedaço tão pequeno da vida da Ju, e mesmo assim, é fácil compreender as dubiedades que cercam sua transposição para a vida adulta, pois são todas genuínas.
"Minha mãe era tão calma que às vezes eu tinha medo de telefonar. (...) Eu demorava quinze dias para pegar no telefone e ficava feliz quando a ligação acabava em um minuto."
"Depois às vezes compro umas roupas, me arrumo, porque dizem, e parece verdade, que a mulher sempre decide: enquanto ela quer, ela segura o homem do lado dela. Só que chega um dia - quantas vezes? quantas vezes vou ter que fazer isso? -, chega um dia que a gente cansa. "
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