30 de dezembro de 2013

Resenha: O Conto da Ilha Desconhecida

O livro O Conto da Ilha Desconhecida, do literato José Saramago, foi com certeza um dos livros mais curtos que já li. A versão que tenho, a da Companhia das Letras, possui um total de 64 páginas - isso porque há oito ilustrações do artista Arthur Luiz Piza.

Aliás, aqui vale um comentário: aparentemente todas as capas dos livros do Saramago publicados pela Companhia das Letras possuem ilustrações desse artista. Eu gosto bastante da estética que eles empregam, pois, apesar da imagem em relevo, mantém uma aparência limpa. O detalhe fica para a lateral: cada livro possui uma cor que orna com os tons da capa - no nosso livro em questão, a cor escolhida foi a verde.

Acho que já li O Conto da Ilha Desconhecida umas três ou quatro vezes, essa é uma daquelas histórias para as quais sempre podemos voltar e ter certeza que novos detalhes serão descobertos. Facilita o fato de que basta algumas horas para lê-lo inteiro. Mas não se apresse na leitura, viu? O número das páginas engana! Ao menos para mim, cada palavra do Saramago precisa ser digerida sem pressa para que eu possa tentar captar suas entrelinhas. 

Livros são sempre uma boa pedida como presente, esse então, acho excelente! Já presenteei algumas pessoas com ele (e espero de coração que tenham gostado). Além do enredo ser ótimo, essa versão que possuo é um capricho só: o papel é daqueles ligeiramente mais rígidos e brilhantes (pois é, sou péssima na descrição, espero que dê para entender), como se fosse de um livro de fotografias. A letra é um pouco maior que o habitual, o que também facilita a leitura. E a cereja do bolo são as aquarelas, que ocupam páginas inteiras e tornam o conjunto ainda mais agradável - além de contarem sua própria narrativa.

As aquarelas com colagem de Arthur Luiz Piza presentes no livro
A história narrada é sobre um homem que tem o desejo de descobrir uma ilha. Para isso, procura ao rei para lhe pedir uma embarcação. Já aí temos o primeiro percalço: não é tão fácil conseguir fazer-se ouvido por alguém de tamanha importância e mediante tantas burocracias. Quanto mais se o que se tem a pedir é algo em si tão incerto: a busca do desconhecido. Porém, desde o princípio nosso protagonista demonstra uma característica nobre que dá o tom à narrativa: é persistente em suas ambições, e por isso, traz as letras impressas um tom de otimismo. 
Ele consegue uma embarcação, porém lhe falta todo resto. Ao menos é o que pensa. Não sabe ainda, ao sair do castelo, que ali já havia conseguido seu primeiro tripulante: a moça da limpeza, aquela que lhe atendeu a porta.
Juntos eles travam as ações e diálogos de quase todo o livro. Os acompanhamos passarem de desconhecidos a companheiros em uma aventura que pensam eles estar para acontecer, porém, nós leitores já sabemos que são nos preparativos que ela ocorre. A ilha se faz na ambição do homem em ter seu barco, no impulso da moça da limpeza em mudar completamente sua vida, na amizade verdadeira que os dois juntos constroem naquele barco, na coragem de se jogar ao desconhecido.
"(...) mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és (...)"
O que notamos ao final é que o encontro da ilha está na busca por ela, uma metáfora da busca do ser humano por si mesmo.
"Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma."

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